Sobre os atos de fala
John Langshaw Austin (1911-1960).
A teoria dos atos de fala está inserida nos estudos da "Pragmática", uma das vertentes dos estudos linguísticos. Essa teoria "considera as frases da língua como ações sobre o real" (Wilson, 2023, p. 92). Conforme Victória Wilson, em capítulo do livro de Martelotta (2023), John Austin foi o precursor da noção de "atos de fala", em seu livro Quando dizer é fazer, publicado postumamente em 1962.
Segundo a teoria dos atos de fala, ao falarmos, realizamos ações como: pedir, perguntar, ordenar, julgar, reclamar, etc. Assim, as falas nas quais realizamos essas ações são "performativas", conforme a perspectiva inaugurada por Austin.
Desse modo, para esse teórico, "dizer algo equivale a executar três atos simultâneos" (Wilson, 2023, p. 93). O primeiro ato é o locutório, que é "centrado no nível fonético, sintático e de referência, corresponde ao conteúdo linguístico usado para dizer algo" (Wilson, 2023, p. 93). Assim, este ato trata do enunciado em sua forma de composição.
O segundo ato de fala é o ilocutório. Este era "central para Austin, uma vez que tem a chamada força performativa, está associado ao modo de dizer algo e ao modo como esse dizer é recebido em função da força com que é proferido. Corresponde ao ato efetuado ao se dizer algo" (Wilson, 2023, p. 93).
Por último, está o ato perlocutório, ele "corresponde à indicação dos efeitos causados sobre o outro, servindo a outros fins, como influenciar o outro, persuadi-lo a fazer algo, causar um embaraço ou constrangimento, etc" (Wilson, 2023, p. 93).
Para exemplificar os três atos de fala, trago uma frase dita por um homem que chega bêbado em casa e encontra a esposa dele olhando-o com a face brava e balançando a cabeça em sentido de negação. Nessa situação, ele proferiu a seguinte frase:
Fonte da imagem: chatGPT
"Prometo que não vou mais me embriagar".
Nesta fala, o ato locutório está no conteúdo linguístico da frase, isto é, nos sons, morfemas e sintagmas que a compõem. O ato ilocutório, por sua vez, está na forma em que o conteúdo linguístico da sentença realiza uma promessa de não mais se embriagar. Já o ato perlocutório pode estar no efeito causado sobre a esposa do indivíduo: ela pode acreditar na promessa do esposo e perdoá-lo por chegar bêbado em casa; ou pode continuar brava com ele por pensar que ele está mentindo.
Referências
WILSON, Victória. Motivações pragmáticas. in: MARTELOTTA, Mário Eduardo (Org.). Manual de linguística. 12 ed. São Paulo: Contexto, 2023.
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